8/11/2006

Depoimento do Francisco

Francisco Almada Ibiapina Camelo

Estudante do Liceu Nilo Peçanha em 87/88 e do Acadêmico Centro(89). Foi membro da CPEN e do Pró-UNES e Diretor de Imprensa da UNES na primeiragestão e membro á época da OJL (Organização da Juventude pela Liberdade.Formou-se em Direito. Foi policial civil e atualmente é Analista Judiciáriodo TJERJ e estudante do curso de Bacharelado em História da UniversidadeFederal Fluminense U.F.F.

Minha passagem pelo Movimento Estudantil Secundarista de Niterói foi antecedida pela entrada em 1986, com quinze anos, para o Partido Comunista do Brasil (PC do B) em São Gonçalo. Achava lindo a foice e martelo cruzados que via em um outdoor instalado no Rodo de SG. Estudava em um colégio particular em SG de onde fui convidado a me retirar devido às minhas idéias políticas e pela vontade de fundar um grêmio estudantil no colégio. Dentro da dura realidade do depauperamento da classe média (meu pai é militar de carreira, no caso, suboficial da Marinha do Brasil) fui obrigado a sair do colégio particular em São Gonçalo e fui estudar no Liceu Nilo Peçanha, que tinha (e tem) fama de ser um excelente colégio da redepública de ensino.

Matriculei-me graças a minha mãe, que foi conversar com a diretora da época do colégio, pois havia estourado o prazo para inscrição para se tornar aluno. Na semana em que estreei no colégio, lá estava eu, participando de um ato contra a suspensão de um aluno (Johnson Braz), que participara de uma reivindicação: a Liberação do chamado bermudão para os alunos estudarem. A diretora quando viu veio em cima como uma fera me questionando porque estava participando daquele ato e que eu era um ingrato, pois esta havia arranjado uma vaga para que eu estudasse no colégio e nem ao menos eu a ouvi. (isto é verdade, mas a solidariedade estudantil me falou mais alto e me encantei com o movimento estudantil e a oportunidade de participar de maneira efetiva pela primeira vez). Concorri para o grêmio como vice na chapa Germinando, contra a chapa Conversação, que tinha apoio da direção da escola eapoio do “movimento paralelo”, do MR-8. Em uma eleição disputadíssima, na qual perdemos por apenas 23 votos (em um colégio de mais de cinco mil votantes), e termos duas urnas impugnadas em turmas nos quais teríamos votação maciça, com a presidente da comissão eleitoral tendo-a feito alegando que eu fiz um sinal para uma aluna, indicando o número da chapa (desculpa mais esdrúxula). Ficamos na oposição, enfrentando um grêmio com apoio da máquina da direção da escola e das entidades paralelas estudantis e enfrentando a perda de Johnson, velha guarda e liderança natural que se formara. Foi parada dura.

Palestra no Liceu - 1987

8/10/2006

Depoimento do Jonhson


Em primeiro lugar quero agradecer ao Francisco Almada pelo carinho e dedicação com que guardou por vinte anos os documentos que nos proporcionaram recuperar essa história de forma fidedigna.
Gostaria também de iniciar este depoimento citando um pensamento do ilustre poeta Mário Quintana que reflete de certa forma, a luta dos estudantes pela reconstrução do movimento secundarista após a abertura política dos anos 80:

“Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”

Para falar de como me inseri no movimento estudantil é necessário, antes, dizer como cheguei ao segundo grau. Tinha acabado de pedir baixa da Marinha do Brasil. Era o ano de 1985. Estava morando sozinho, aqui no Rio. Minha família é toda de Natal, no Rio Grande do Norte. Peguei os classificados de empregos e vi que meu primeiro grau, feito pelo supletivo do Estado, e minha experiência profissional como marinheiro só me habilitavam a ser auxiliar de cozinha ou a trabalhar em serviços gerais. Qualquer outra profissão exigia ao menos o segundo grau. Assim, depois de sete anos sem estudar formalmente, resolvi voltar aos bancos escolares. Sobrevivia fazendo entalhe e esculturas em madeira. Dava para ganhar melhor do que o salário de marinheiro. Procurei uma escola próxima a minha residência, no Boassu, em São Gonçalo. Era um colégio da rede Cenecista. Colégio Cenecista Orlando Rangel, na Praça Zé Garoto. Quando resolvi voltar a estudar levei comigo mais três amigos, que aos poucos foram desistindo; antes mesmo de terminar o primeiro semestre letivo, daquele grupo, somente eu continuava. Eram os tempos do Sarney, do Cruzado, da fila do feijão e da carne com ágio. Tempos áureos da inflação, do over night e da conta remunerada. Os dois últimos, evidentemente, não eram para mim. O colégio que escolhi aumentava o valor da mensalidade bimestralmente, e mesmo assim ainda era uma das escolas mais baratas. Contudo, não foi possível suportar mais de um ano submetido ao mercado da educação.
Fim de ano. Aprovado com notas excelentes, apto a prosseguir. Não havia dinheiro para pagar a mensalidade. Resolvi procurar uma escola pública. Um colega disse que o Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, era uma boa escola. Fui lá pleitear uma vaga no segundo ano. Na porta principal, tinha um senhor gordo, grisalho. Perguntou-me o que eu ia fazer lá. Informei que gostaria de conseguir uma vaga, ao que respondeu que as matrículas já tinham encerrado e me impediu de entrar para falar com a diretora. Voltei para casa meio sem esperanças.
No dia seguinte coloquei dois entalhes em madeira na mão, peguei um ônibus e voltei ao Liceu. Disse ao porteiro que a diretora havia encomendado aqueles trabalhos e eu estava indo fazer a entrega. Assim pude penetrar no colégio que viria a marcar minha vida. Dirigi-me até o gabinete da diretora, Professora Maria Yvonne Valladares Silva do Amaral. Minha timidez nunca me impediu de lutar quando era preciso. Ofereci a ela os trabalhos, contei que eu mesmo fazia e perguntei-lhe se havia algum interesse em comprar. Ela me respondeu que não, mas, como estava havendo uma reunião pedagógica, havia vários professores na escola, poderia ser que alguém se interessasse. Pediu-me para que a acompanhasse até o salão nobre. Apresentou-me como se já me conhecesse há algum tempo. Ofereceu os trabalhos aos presentes. Não houve interesse, mas alguém quis saber se eu era aluno do colégio. Aproveitei a oportunidade e disse que estava ali tentando conseguir uma vaga no segundo ano.
- Maria Yvone! Alguém gritou. “Você não deu uma vaga para ele?”
- Já estou conseguindo. Disse sorrindo. Desapareceu logo após. Finda a reunião fui procurar novamente a diretora. Corri de um lado para o outro, feito sua sombra, até que ela entrou no gabinete e pediu-me para esperá-la na ante-sala. Tomei um pequeno “chá de cadeira”. Quando ela me atendeu novamente, perguntei-lhe pela vaga. “Vá à secretaria, entregue este bilhete a Aini, ela é a secretária e vai te matricular”, disse. De posse do bilhete, o resto não foi muito difícil. Estava matriculado, e ali nascia um “ingrato”, nas palavras da diretora, mas seria o primeiro passo para minha rápida trajetória de militante estudantil.

Quem somos



Francisco Almada
Bacharel em Direito, servidor do TJERJ e
Estudante de História da UFF.
Autor dos textos,
Membro da 1ª Diretoria da União Niteroiense de
Estudantes Secundaristas - UNES.
Ex-dirigente do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha - Niterói


Jonhson Braz
Co-autor dos textos
Advogado e Funcionário da UFRJ,
Assessor Jurídico do Sindicato Estadual dos
Profissionais de Educação SEPE - Nova Iguaçu
Refundador do Grêmio do Liceu Pós-ditadura Militar
1º Diretor Geral do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha - Niterói após sua reativação
Um dos Fundadores da UNES.

8/09/2006

DEPOIMENTOS

Os trechos dos depoimentos aqui publicados foram colhidos junto aos diversos militantes que fizeram a história do movimento estudantil secundarista de Niterói.
Pretendemos realizar entrevistas com todos aqueles que fizeram a vanguarda do movimento e que estiverem dispostos a colaborar com o projeto.
Em breve todas elas estarão publicados na íntegra em livro de autoria coletiva. Saiba um pouco mais da trajetória política e pessoal de cada militante.

8/08/2006

Eles lutaram pela reativação dos grêmios estudantis nas escolas públicas de Niterói e fundaram os grêmios das particulares. Foram os precursores da campanha pelo passe-livre para os estudantes secundaristas nos transportes coletivos. Criaram a União Niteroiense de Estudantes secundaristas – UNES. Participaram das manifestações Fora Sarney, Diretas já. Apoiaram o movimento dos professores por melhores salários e por uma educação pública gratuita e de qualidade. Criaram a estrutura organizacional que propiciou aos futuros estudantes, na década de noventa, saírem às ruas com suas caras pintadas, pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor. Enfim, influenciaram na história política da cidade de Niterói, e consequentemente na história do Brasil, que não seria a mesma se não fosse a atuação dos estudantes.

Visando resgatar essa história, quase sempre esquecida pelas diversas abordagens existentes acerca do movimento estudantil, e destacar a importância da participação dos estudantes de Niterói e São Gonçalo na história política da cidade e do País, foi reunida uma série de documentos, impressos, fotos e depoimentos, e criado esse blog com o objetivo de aglutinar outros atores dessa época que queiram participar desse projeto, que se inicia com a criação do blog, pretendendo evoluir para um site que terá sua coroação com a edição de um livro, de autoria coletiva sobre o tema.

Lamentamos se em algum momento fizer falta uma base documental mais extensa sobre o movimento estudantil, mas há de se convir que o povo brasileiro é conhecido pela relativa falta de memória histórica ( e nela se inclui a documental, especialmente sobre as organizações de esquerda que nascem e morrem a uma velocidade espantosa) e o M.E. S. (movimento estudantil secundarista) também não foge a regra. Procuramos acima de tudo preservar a chamada memória oral dos participantes dos fatos narrados, a chamada fonte direta da história, sem deixar de lado a parte documental que dispomos e pretendemos ampliar através da colaboração de outros atores que queiram somar-se a nós, pois apesar de sermos bastante jovens (pelo o menos a época dos fatos, há dezoito anos atrás), dois dos nossos pelo o menos já se foram, vítimas das circunstâncias da vida e já não estão entre nós. É caso do precoce e brilhante intelectual ( a ponto da dogmática) Almiro, membro do extinto PLP (Partido da Libertação Proletária), que além de grande teórico e militante vanguardista do movimento estudantil, era um excelente dançarino de lambada (se lembram da lambada?) bem como tocador de violão, poeta, entre outros atributos. Porém, esse rapaz não tinha uma qualidade básica, não sabia nadar e morreu afogado na travessia do canal de Itaipu... O outro era fulano, jovem comunista de 19 anos também do PLP que participou por menos de cinco meses da Comissão Pró-Unes, mas que teve sua curta carreira política no movimento social interrompida ao ser assassinato por tiros dados a queima-roupa ao tentar ajudar a organizar uma invasão de uma fazenda em Itaboraí (é isso mesmo, Itaboraí, aqui do lado) . Um herói anônimo do povo, que não pôde nem ao menos desabrochar para a vida e conhecer a justiça do que acreditava representar, no auge dos seus apenas dezenove anos ( pelo o menos esse rapaz foi poupado do dissabor de ver o fim da URSS na qual tanto acreditava).. Contradições e injustiça da história...Renato Russo já não dizia que os bons morrem cedo? Essas e outras histórias serão comentadas aqui, e posteriormente publicadas em livro.

Seu depoimento importante para nós. Deixe eu comentário, com nome, e-mail e um telefone para contato. Importante: a postagem autoriza os proprietários do blog a usa-la, se assim interessar, na publicação em livro ou em outra mídia imspressa.

Você pode participar também doando documentos, fotos, atas, faixas e outros registros que ajudem a contar a história do movimento estudantil em Niterói.

Para saber mais:
Envie um e-mail para
jonhsonbraz@gmail.com ou telefone para
55 21 9235-8492.

1º Congresso da Unes

Primeiro Congresso da UNES - Foto histórica

8/07/2006

Pioneiros - posse da primeira gestão do grêmio do LNP

Passeata dos 10000

Panfleto

Panfleto de 1988 divulgando uma passeata dos estudantes de Niterói convocada pela União Niteroiense de Estudantes Secundaristas

Lixeu


















Jornal do Grêmio, publicado em 1988, denunciando o descaso do governo à época com a educação, especialmente com o Liceu Nilo Peçanha, que se encontrava em péssimo estado de conservação.

Foice e martelo

Cartaz da UNES ironizando o prefeito e o governador da época